15 de mai. de 2010

Ecos do 13 de maio

Guiando o leitor nas bibliotecas digitais, Renato Venâncio mostra a evolução do pensamento que buscava eliminar o "martírio irresgatável" da escravidão no Brasil.
Renato Venâncio

A pesquisa a respeito da escravidão sempre exigiu muita criatividade por parte dos historiadores. Raríssimos foram os escravos alfabetizados. Mais raros ainda foram os que deixam documentos escritos do próprio punho. O testemunho a respeito dos povos da senzala quase sempre dependeu dos registros de traficantes e de cartórios, assim como dos textos de processos da inquisição e de tribunais civis.

A história do abolicionismo foi um pouco diferentes. O movimento filantrópico sensibilizou parcela importante da elite letrada. Daí a existência de milhares de folhetos, livros e jornais divulgando a causa. A biblioteca digital do Senado disponibiliza um extraordinário conjunto dessas fontes. Uma estratégia de pesquisa interessante é clicar no item “títulos”, sem preencher o campo “busca”. Assim, é possível visualizar o conjunto do acervo bibliográfico digitalizado, composto por  181 livros e folhetos.

As preciosidades se sucedem. Não só a perspectiva abolicionista é registrada. Textos registrando experiências de substituir o braço escravo datam de 1845, como o “A substituição do trabalho escravos pelo trabalho livre no Brasil, por um meio suave e sem difficuldade”, redigido por Henrique Velloso de Oliveira. Outro exemplo, de 1865, propunha a formação de irmandades religiosas que, através de esmolas e doações testamentárias, reuniriam fundos para compra da liberdade dos cativos: “Idéas, lembranças e indicações para extinguir a escravidão no Brazil: salvar a propriedade e educar os libertos afim de serem cidadãos uteis, por Benjamin Fontana.

Dessa forma, é possível conhecer não só a opinião dos abolicionistas, como também de segmentos moderados, os emancipacionistas, que propunham indenização dos senhores e uma lenta transição do sistema escravista para o livre. Posição, aliás, assumida pela maçonaria: “Emancipação dos escravos, as sociedades maçonicas e abolicionistas do Imperio, por Elzeario Pinto, 1870”. Na biblioteca digital do Senado também há testemunhos de defensores da escravidão.  No livreto “A emancipação: breves considerações, por um lavrador bahiano. Bahia: Typ. Constitucional, 1871", é possível ler queixas dos fazendeiros frente à recém aprovada Lei do Ventre Livre, que libertou os filhos das escravas. Um aprofundamento nos antecedentes dessa legislação é facultado pela leitura do clássico “A escravidão no Brasil: ensaio historico-juridico-social”, de Agostinho Marques Perdigão Malheiro, publicado em 1866.

Como seria de esperar, documentos preciosos de associações abolicionistas são disponibilizados, como o “Manifesto da Confederação Abolicionista do Rio de Janeiro”, de 1883, redigido por José do Patrocínio e André Rebouças. As variantes regionais do movimento também são captadas por diferentes textos. Um deles é “Apontamentos para a historia do movimento abolicionista na provincia do Rio Grande do Sul”, publicado em 1888, por Joaquim de Salles Torres Homem. Em relação ao Estado do Amazonas, pode-se ler os discursos proferidos no “Banquete dado pela Confederação Abolicionista e alguns amigos da idéa no dia 19 de agosto de 1884 em homenagem á libertação do Amazonas e aos deputados que apoiaram o gabinete de 6 de junho”.

As conferências abolicionistas são outro ponto forte do acervo. O calor dos debates foi muito bem captado na “Conferencia do sr. Joaquim Nabuco a 22 de junho de 1884 no Theatro Polytheama” ou na “Conferencia publica do jornalista José do Patrocínio feita no Theatro Polytheama em sessão da Confederação Abolicionista de 17 de maio de 1885”.

Em “A situação abolicionista”, de 1885, Rui Barbosa revela o tom acalorado dos debates e a adesão de parcela importante da elite à causa. O Conselheiro do Império lembra a situação dos escravos em cuja face, muda como a calma das noites sem astros, a agonia e o vilipendio de tres séculos aprofundaram o sulco eterno das lagrimas extinctas, e sobre cuja fronte branqueja a neve alpina da velhice santificacla pelo martyrio irresgataveI. 


fonte: http://rhbn.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3065

23 de nov. de 2009

Evolução histórica


Todas as manifestações culturais afro-brasileiras eram proibidas, desprezadas, desestimuladas e perseguidas porque não eram parte do universo cultural europeu, não representavam civilidade, mas sim, uma cultura selvagem e atrasada em contra-ponto à Europa em desenvolvimento.Entretanto, a partir de meados do século XX, as expressões culturais afro-brasileiras começaram a ser gradualmente aceitas, admiradas e celebradas pelas elites brasileiras como expressões artísticas genuinamente nacionais. Nem todas manifestações culturais foram aceitas ao mesmo tempo. O samba foi uma das primeiras expressões da cultura afro-brasileira a ser admirada quando ocupou posição de destaque na música popular. Posteriormente, o governo da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas desenvolveu políticas de incentivo do nacionalismo nas quais a cultura afro-brasileira encontrou caminhos de aceitação oficial. Por exemplo, os desfiles de escolas de samba ganharam nesta época aprovação governamental através da União Geral das Escolas de Samba do Brasil fundada em 1934. Outras expressões culturais seguiram o mesmo caminho. A capoeira, que era considerada forma de briga de bandidos e marginais, foi apresentada, em 1953, por mestre Bimba ao presidente Getúlio Vargas que então a chamou de "único esporte verdadeiramente nacional". Durante a década de 1950, as perseguições às religiões afro-brasileiras diminuíram e a Umbanda passou a ser seguida pela classe média carioca[2]. Na década seguinte, as religiões afro-brasileiras passaram a ser celebradas pela elite intelectual branca. Em 2003, foi promulgada a lei nº 10.639 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), passando-se a exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio incluam no currículo o ensino da 'O português que falamos no Brasil tem muitas palavras de origem africana, você sabia? Isso acontece porque - principalmente durante o período colonial - os negros foram trazidos da África como escravos, para trabalhar na lavoura. Os africanos trouxeram consigo sua religião - o candomblé - e sua cultura, que inclui as comidas, a música, o modo de ver a vida e muitos dos seus mitos e lendas. Trouxeram ainda - é claro - as línguas e dialetos que falavam. Os povos bantos, que habitavam o litoral da África, falavam diversas línguas (como o quicongo, o quimbundo e o umbundo). Muitos vocábulos que nós usamos freqüentemente vieram desses idiomas. Quer exemplos? "Bagunça", "curinga", "moleque", "dengo", "gangorra", "cachimbo", "fubá", "macaco", "quitanda"... Outras palavras do português falado no Brasil também têm raízes africanas. Muitas delas vêm de diferentes povos do continente, como os jejes e os nagôs (que falavam línguas como o fon e o ioruba). Palavras como "acarajé", "gogó", "jabá" e muitas outras passaram a fazer parte do nosso vocabulário, foram incorporados à nossa cultura. Em geral, trata-se de nomes ligados à religião, à família, a brincadeiras, à música e à vida cotidiana. Quer um exemplo bem trivial? "Bunda". Essa palavra também é africana, pode ter certeza. Se não fosse por ela, teríamos que dizer "nádegas", que é efetivamente o termo português para essa parte do corpo humano. Da mesma maneira, em vez de "cochilar", teríamos que dizer "dormitar". Em vez de "caçula", usaríamos uma palavra bem mais complicada: "benjamim". Empolado, não é? Dizem que a língua banta tem uma estrutura parecida com o português, devido ao uso de muitas vogais e sílabas nasais ou abertas. Deve ser verdade, observe os sons da palavra "moleque" e de "gangorra". Parece também que o jeito malemolente (isto é, devagar e cheio de ginga) de falar facilitou a integração entre o banto e o português. A verdade é que hoje a gente usa tantas palavras africanas que nem repara em sua origem. Quer ver? O que seria do Brasil sem o "samba"? E tem mais: "cachaça", "dendê", "fuxico", "berimbau", "quitute", cuíca", "cangaço", "quiabo", "senzala", "corcunda", "batucada", "zabumba", "bafafá" e "axé". Para quem não sabe, "bafafá" significa confusão. E "axé" é uma saudação com votos de paz e felicidade. O prefixo "afro" Antes de terminar, é bom lembrar que hoje é muito comum o uso do prefixo "afro" (relativo à África), em palavras como afro-brasileiro, afro-descendente, afro-americano. Repare que essas palavras, assim como o próprio prefixo, são adjetivos. E a gramática manda que palavras formadas por prefixos que sejam formas adjetivas sejam separadas por hífen. Ora, "afro" é redução de "africano". Portanto, afro-brasileiro é algo ou alguém com características ou origem africanas e brasileiras e afro-descendente é algo ou alguém que descende de africanos.